domingo, 10 de julho de 2011
Distantes
Ficava de plantão, tudo o que queria era que alguém precisasse dele. Se distraía com passatempos pouco produtivos e raros, porque tudo o que queria era que alguém precisasse dele. Não ligava, tampouco cogitava procurá-los, mas tudo o que queria era que precisassem dele. As vezes falava por alto com alguém, as vezes até o chamavam para um passeio cheio de gente, mas ele não ia, não queria se aglomerar, tudo o que queria era que precisassem dele. Sumiam, sumiam todos, sumiam por tempos, sumiam sempre, e tudo o que queria era que alguém precisasse dele. Ele ficava sozinho, calado, pensativo, aprendera a lidar com a solidão, e mesmo assim só queria que alguém precisasse dele. Olhava o telefone, tinha raiva que ele nunca tocava pra ele – tinha raiva que não precisassem dele. Esperava notícias, cogitava encontros ao acaso e surpresas que fariam para alegrá-lo, precisava tanto que precisassem dele. Esperava alguém, queria companhia, não suportava mais esperar que alguém precisasse tanto dele. Rabiscava folhas de papel, lembrava de uma ou outra pessoa que poderia precisar dele. Quando precisarem de mim, pensava, eu não vou estar lá – queria se vingar, só de raiva de ninguém precisar tanto dele. Gostava que precisassem, se sentia forte, se sentia cheio, preenchido. Ele nunca precisava deles, quando não estava bem, calava-se – na verdade, não sabia pedir ajuda. E quando estava bem, calava-se também, não sabia direcionar seu ânimo. O que eu não sei, pensou, é ser especial. Quando precisavam, ele ia lá, despendia cuidados, tempo e sutilezas. Ele os colocava de volta no ar, e eles só vinham se precisassem de novo. Tinha medo de precisar e eles não estarem lá. Diziam-se tão seus, mas ele que era deles. Eles iam e vinham quando bem entendiam, sabiam o que ele não queria ver: sempre estaria lá por precisar tanto deles. Só queria que estivessem presentes, e precisava tanto que precisassem dele, porque, lhe parecia, era só quando surgiam – mansos e seus.
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