sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O garoto mais mentiroso do mundo

Fazia tempo que não conversavam, mas por algum motivo aquele foi um dia propício. Sentados os dois juntos, lado a lado, numa mureta de jardim, começaram a divagar sobre os devaneios da vida. Eram jovens e saudáveis, no entanto, estavam paralisados por seus medos. Cada um deles carregava uma angústia dentro de si. Cada um deles tinha um jeito, ele e ela, expondo-se um para o outro puderam perceber que, no fundo, eram mais parecidos do que imaginariam. Diferentes e iguais, a única diferença, talvez, estivesse no modo de agir.
Concordavam em sintonia, sentiam-se no mesmo barco. Um falava, o outro escutava acatando o que lhe servia.
Ele costumava ser mentiroso, mas às vezes despia-se em verdades profundas. Ela se deliciava, era o tipo de momento em que as desconfianças sumiam e conseguia confiar nele. Via verdade em seus olhos e não pestanejava em acreditar, olhava-o e ouvia com carinho.
Gostava de guardar esses momentos para, quando mais duvidasse, ter de onde tirar a confiança no garoto.
A garota viu uma pedrinha no chão. Dançou seus dedos nela para logo fechá-la na palma de sua mão e guardá-la no bolso. Não soube direito o porquê daquilo, mas fez.
Eles eram dramáticos, problemáticos, medrosos. E quem se importava? Ali, só queriam compartilhar.
Olhavam-se nos olhos como quem procura saciar a sede por um pouco de verdade em meio a toda farsa cotidiana- conseguiram.
Ele falou daqueles que só o queriam por perto nos momentos dourados; ela questionava-se, então, por que ele parecia dar tanto valor a elas. Ele perguntou se aquelas pessoas o mereciam como amigo; ela hesitou, respondeu apenas que ele gostava de tê-las por perto. O garoto se calou.
Depois, a garota teve curiosidade de saber se ele só a tinha para os momentos de dificuldade, mas não mencionou nada.
- Me sinto bem falando com você. Mais leve. Como se fossemos iguais, se eu sou louco, você também é.
Ela riu.
- É como se tudo fosse dar certo se a gente desse as mãos e seguíssemos juntos.
A garota teve certeza de que ele a queria bem, vontade de se atirar nele e lhe dar um abraço. No lugar disso, sorriu e disse:
- Que bonito.
Voltariam para casa com a certeza de que, se são os grandes eventos que temperam a vida, as coisas mais simples é que dão sentido à ela.
Falaram em se ver mais tarde, sem saber se encontrariam ou não naquele dia de novo.
Ela ficou de pé esperando que ele se despedisse. Ele deu um beijo em seu rosto, ela deu tchau.
A pedrinha ficou guardada.