quarta-feira, 15 de outubro de 2014

O duplo

Por trás de quem somos, há os fantasmas que apontam acusando-nos de não sermos outro. Por trás de nós, há o sibilo do inquiridor ressoando: não é o suficiente, ele diz. Enquanto realizamos ou deixamos escapar, há próximo o que nos cerca, vigia e condena - em silencio, na memória, ao longe e por dentro. Um duplo sarcástico, profetizador de fracassos, impiedoso, quase invejoso e um pouco ciumento. Que, oco, nos acusa de sermos pueris. Malicioso, exige de nós excesso de pudor. E ainda que agrida, requer nossa docilidade. Ele grita para que estejamos em silêncio e propõe diálogo, fechado em sua retórica. Se agiganta, enegrecem-lhe os olhos e, então, dita, assertivo e teatral, o grotesco. 

Tu me alcanças, o que desejamos é a digestão do vil palavrório. Giramos em torno de nós mesmos ao som de um sambinha melódico e calmo. Nesse ínterim, o resto é o resto - e imerge.