sábado, 25 de dezembro de 2010

Do Natal

O natal é sempre uma esperança. O nascimento, a festa, as luzes, tudo. A fé e a família. A vida a ser celebrada. A gratidão. A vontade de ser bom. Feliz Natal, amigos! Jesus nasceu!

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Vento (Reeditado)

É acreditar estar forte para uma brisa leve revirar meu tempo e transformar meu pensamento num vendaval. Tanto medo do medo. Tão vulnerável por mim e pelo que não existe ao certo. Tenho medo do que pode estar por perto e chegar sem avisar. Tenho medo do destino e da efemeridade. Quanto a eternidade, é por não saber o tempo que vai durar. E quando acabar?

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Presente ausência

O silêncio da sua imagem esvaziou minhas horas. A monotonia da sua ausência inquietou meus dias. Começo a ter dificuldade em visualizar suas cenas. Sua graciosidade pelo tempo é esmorecida. Preciso ver-te antes que a lembrança seja nua de imagens, gestos e de suas pequenas manias.
Meus olhos se contentariam com uma aparição apenas, de relance, num átimo de instante, de preferência no meio do seu vasto riso, sem aviso, daqueles que só existem em ti: cessa na boca, continua nos olhos. Esses seus olhos que sorriem para os passantes e só não vê quem não quer ou é distraído. Que culpa tens, se teus olhos são sorridentes?
Eles sorriram pra mim e você nem sabe.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Pressa

Tateando
A coragem,
achou
A fé.
Apanhou-a na mão e
correu
Colocando-a
No bolso.

Esqueceu-se dela.


Depois,
desaprendera como era usá-la.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

sábado, 14 de agosto de 2010

Guardado

As vezes tenho um pensamento
que anula todos os outros e
por si só
está certo.
É ele que sustenta
esse sonho que levo
e faz eu querer
mais do que tê-lo
Ser contida pelo sonho
e ver meus pés sobre ele.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Vagas imagens (Reeditado)

Minha infância
vai dando sinais de fim.
O mundo
que eu queria congelar
pra mim
parece tentar evitar
as mudanças em vão
Se arrasta
entre as perdas
que precisa superar,
Teme finalmente abrir os olhos
e notar
que aquele mundo
não mais existe.

Aqueles quintais de terra
virando pó
e aquelas pessoas de sempre
tão antigas
virando estrela
e poeira
e tudo virando lembrança.

O sol não mais iluminando
as telhas vermelhas,
Minhas férias
não mais em um interior de paralelepípedos.
Meu cachorro mais como um instante.
Meus pais mais cansados.
Minha irmã mais remota.
Eu mais sisuda.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Dessas coisas

Pego-me na ansiedade alegre de uma criança que espera por um passeio ou por um saco de pipoca. Passo os dias assim, nessa expectativa pelo óbvio que ninguém vê. As músicas tocadas embalam meus calafrios no estômago.
Se pudesse, diria ter arranjado a inspiração, como se fosse aquela musa do poeta. Temo a censura. E de onde evoco tanta beleza, se hoje, olhando naqueles olhos e rosto tão de perto talvez nem fossem tanto? Mas são tão belos. Pergunto-me se ninguém mais vê. Tão belos. Acho, as vezes, que aquela beleza foi feita sob encomenda pra mim.
Aonde fui buscar tanto encanto para um só rosto entre tantos?
Cruzo os dedos para que fique ao meu lado e não ache graça neles. Mas não consigo ser divertida ou coisa alguma. Perco-me. Fico sem palavras, sem saber por onde começar. Forjo uma naturalidade que não é minha, até minha voz muda sem meu comando.
Mas quando conseguimos uma conversa, uns risos, dessas coisas sem pretensão ou nervosismo, fica tudo tão bom e mais bonito - faz-se festa dentro de mim.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Contentamento

A presença
mais carregada de festejo
e alegria.
Se somente a companhia
é carrega
de tantos festejos
e de tantas alegrias
Imagine só
o que não são
Os risos –
festas prontas,
As conversas –
diálogos desejáveis
de serem ouvidos,
Os abraços –
ternura infinita,
E toda a intimidade –
Ah!
Uma delícia.

Ao menos sei ou quero
dizer porque é tão bom:

Ai, que saudade dos seus dias!

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Sua graça

A sua entrada
iluminou
todo esse lugar
Onde antes
Tudo era pálido
e sem graça
A sua graça
Trouxe beleza
Genuína
e encantadora
A morenice arrebatadora
que só sua
áurea de encanto
pode trazer.

Quase me esqueço
de cada traço
de cada trejeito
que ainda
Nem decorei.

Estranha mania
minha essa
a de colocar
sua pele de sol
Num pedestal.

Quase me esqueço
que de teu
Guardo apenas
poucas palavras
trocadas
E umas imagens
congeladas.

sábado, 22 de maio de 2010

-

Não tenho nada a dizer.

O vestígio de angústia
que ainda habita em mim
tem a voz baixa
Sem força suficiente
para se fazer entender.

Minha cabeça parece vazia –
eu sei, ela não está
Nem quer.

Mas os pensamentos
vêm
vão
sem o menor compromisso
de serem meus.
Chegam dando rasantes,
pousam,
ganham abrigo,
se vão.

As vezes voltam
Outras nem se fazem lembrar.
Mudam-se com desapego
Acho que não têm endereço fixo.

Alguns
são bons conselheiros,
Outros
não passam de companhias
indesejáveis.

Tem horas
que tudo que existe
sou eu.
O mundo lá fora,
eu espero,
toma conta de mim –
ou não,
sabe lá o destino.

Não percebo ninguém,
nada.
Sons passam distantes.
Eu passo distante.
Sorrio para o nada,
vidro os olhos em alguém –
nem reparo no que faço.

Alguém me reparou.
Eu não vi.

E o tempo voa,
não pensa em parar pra eu pensar
em paz.
O tempo vai embora
e não pensa em voltar
atrás.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Versinhos de um bobo

Eu gosto de andar
e olhar
pra você andando
e sorrindo
do meu lado.

Eu gosto de chegar lá
e ver
Seu sorriso farto e fácil
notando meu novo penteado.

Eu gosto de reparar
e ver
Que você leva a morenice
e o encanto
Lado a lado.

Eu gosto de dançar
os olhos em você
e vislumbrar
Em seus olhos
a inocência
quase sem nenhum
pecado.

Eu não gosto de pensar
E entender:
Mal te conheço
E já estou tão encantado.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

A noite vai (Reeditado)

A noite vai.
O dia vem
E traz
A paz
que a noite leva.

O dia vem
E traz
A luz
Que a noite leva.

O dia vem
E traz
O som
Que a noite leva.

O dia vem
E esquece
A fé
Que a noite traz
E se desfaz
Na promessa
De medo nunca mais.

domingo, 25 de abril de 2010

Poema gripado

Queimo em chamas invisíveis,
Retorço-me
Sem conseguir evitar o movimento.

Sigo cada hora um:
Não tenho itinerário certo.
Consolo-me da ausência de cuidados excessivos.

Mal posso dançar.
Meu corpo parece querer deitar em qualquer chão,
busca o conforto que essa sensação me tira.
Tomo um comprimido –

minha temperatura parece abaixar
e (quase) consigo parar de emitir gemidos.
Me resta o muco-meleca
escorrendo-me pelo nariz.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

A bunda que engraçada

A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica.

Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora – murmura a bunda – esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.

A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio. Anda por si
na cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.

A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.

Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz
na carícia de ser e balançar.
Esferas harmoniosas sobre o caos.

A bunda é a bunda,
redunda.




Carlos Drummond de Andrade

O amor natural, 1930




Achei engraçado quando li, resolvi publicá-lo aqui. haha

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Alegria

Há muito
não sentia
o sabor
daquele vento de alegria.
Dentro de si
Fez-se sintonia
E o que esquecera
A alegria daquela ventania.

Palavra e presença
De quem já esquecera como era amar
Provocaram a quase epifania.

Riu do próprio riso –

Há muito
não sabia
O que era rir
Da própria alegria.

Depois do vento
a calmaria
que logo dava lugar
À brisa daquela alegria.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Diálogo silêncioso

Pedi a Deus algumas oportunidades. Ele me deu e eu desperdicei todas elas. Fingi não perceber enquanto dentro de mim havia uma batalha incessante:
- Vai lá, foi você quem pediu. Está a alguns passos, é só seguir.
- Não, melhor não arriscar. Não vai dar em nada mesmo.
Deixei pra lá e segui meu caminho desviando das chances que Ele me deu.
- Deus, confesso, fui covarde. Será que não tem como haver uma segunda, talvez terceira ou quarta chance? Talvez seja pedir demais mesmo. Mas eu queria tanto. Tá, eu sei, eu sei que se eu quisesse tanto eu teria seguido. Mas ué, talvez meu medo fosse maior que minha vontade, ou igual, por isso não segui. Ah, não é tão fácil assim. Eu sei, não tem ninguém dizendo que é fácil e que eu preciso tentar mesmo assim. Eu sei de tudo isso. Me digo catolicamente. Já estou quase cansada de saber. Mas mesmo assim não faço, né? Pareceu até minha mãe agora. E eu não ligo pro que minha mãe diz. Ei, isso não é verdade. Eu sempre ligo pro que minha mãe diz. Tá, as vezes eu não ligo muito, mas o que é que tem? Se você liga pra tudo o que te dizem, enlouquece, sabia? Se você liga pra tudo o que diz para si mesmo também. É verdade. Melhor parar.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Pobres crianças

Pobres crianças. Basta tomar um pouco de consciência sobre o mundo que logo começam os tormentos. Entulham-nas de medos desnecessários só, talvez, para melhor controlá-las. Medo do escuro, medo de morcego que chupa sangue, medo do bicho papão debaixo da cama, fantasmas, bruxa... E elas, as crianças, ficam com esse tipo de pensamento em seu imaginário fértil. Passam a ter medo de dormir sozinhas, ir ao banheiro de noite, olhar em baixo da cama. Começam a imaginar personagens assustadores enquanto poderiam sonhar tranquilamente.

Pobres crianças. Os próprios pais criam seus medos para, depois, impacientemente desmenti-los. “Que bobagem! Fantasmas não existem. Não têm morcegos no seu quarto nem fantasmas no escuro. Me deixe dormir, não há nada embaixo da sua cama, filho!”

Pobres crianças. Fazem-nas acreditar que a vida precisa ser dura. Que precisam, a qualquer custo, amadurecer. Disfarçadamente, cortam as asas de seus sonhos.

Como sofrem. Aprendem com quem já desaprendeu a se deslumbrar com pequenas coisas. Crescem acreditando que se deve buscar enriquecimento. Que os talentos ficam esquecidos na adolescência. Que os desejos podem ser renunciados. Que é errado pensar e dizer, querer e fazer. Que crianças só dizem bobagens.

Como sofrem os pequenos, cheios de sonhos e instinto de liberdade. Só querem brincar com terra e bola, mas não podem se sujar nem suar. Só querem a companhia dos pais que estão ocupados demais para brincar. Ora crianças, adultos não perdem seu tempo com brincadeiras, estão trabalhando muito. “Vão assistir televisão!”. Aí, são colocadas em frente ao educador eletrônico. Que programação variada! Será suficiente para mantê-las paradas por um bom tempo. E depois do desenho: telejornal, novela, propagandas. Pronto, acesso a bastante coisa que não deveriam: violência, erotismo, estímulo ao consumo. “Não se pode protegê-las da realidade!”. Mais porcarias entulhadas na cabeça das crianças.

E como sofrem as crianças! Se fazem o que não devem, apanham. Se choram, apanham. Conhecem cedo o poder de controle da violência. Se erram de novo, aos berros lhe mostram o certo a fazer. E ainda querem que aprendam rápido. Não pode gritar, não pode sujar, não pode fazer bagunça. Só dizem o que não se deve fazer. Adultos podem tudo, criança, quase nada. Adultos são espertos, crianças nem gente são ainda. Talvez quando elas, as crianças, virarem gente, possam bater, possam gritar... Não virem gente!

Crianças... Descobrem cedo o sabor de um refrigerante lotado de glicose e corante, de uma batata frita pingando gordura saturada. Aprendem que é mais saboroso do que um pedaço de melancia ou uma fatia de beterraba. Ficam logo com o paladar viciado. Mais tarde chegam os problemas: diabetes, pressão alta... E ficam como os pais, que tem diabetes, pressão alta...

Talvez, se eles lembrassem de como é ser criança jamais repetiriam tais barbaridades. Lembrar de como é pensar e falar, querer e fazer, se emocionar e chorar. Entristecer e chorar também e logo em seguida, olhar para o lado e ver algo que lhes enche de alegria. E abrir um sorriso em meio ao choro. E esquecer a tristeza. E dar gargalhadas. E só aproveitar aquele momento. E esquecer que as coisas são tão difíceis. E querer estar perto de quem gosta. E sonhar. E ser criança de novo.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Viajei

Sem muita bagagem, alguma pretensão e uma amiga do lado, viajei. Lá, esperava encontrar a praia perfeita. Não achei. Parecia o caos. Gente e mais gente. Minha ilusão de paraíso deserto foi por oceano adentro, naufragou. Em meio ao caos ressurgiram as vozes e os sorrisos conhecidos, aos poucos fui me reencontrando. Localizo-me, afinal. O caos naufraga junto às minhas frustrações iniciais, passo a gostar do lugar e a me divertir só pelo fato de estar ali.
Olhava para frente: mar e areia. Olhava em volta: amigos queridos.

Tardes de ócio, grandes pausas de silêncio, brisas suaves e fortes. Um rosto conhecido sempre ali a fazer silêncio, a fazer confissões, a responder perguntas estúpidas e a agüentar minhas manias. A sorrir de forma mansa. Um rosto tão antigo a mostrar trejeitos que eu desconhecia. Velhos traços de infância dando espaço aos recém adquiridos traços de amadurecimento. E eu ali pensando como não havia percebido antes. Reparei em algo, não sabendo muito bem no quê. Reparei sem perceber e sem querer: aquele alguém fluía diante de mim obrigando-me a deixar de lado antigas impressões.

Longas caminhadas noite adentro. Íamos longe evitando pensar no caminho de volta. Ar fresco e um céu de estrelas. Fins de tarde e maresia. Conversa jogada fora na praça. Partidas de cartas para quebrar o tédio que mais parecia descanso e não chegava a incomodar. Sorvete e crepe de palito e brigadeiro de panela e empada da padaria e café com leite e pão com manteiga e tudo tinha um sabor diferente.

A casa, aconchegante, parecia querer abrigar o maior número de ocupantes possível. Quanto mais gente, mais radiava, não se fazia lotada. A varanda em parceria com sombra fresca e vento. O banheiro tinha até duchinha! Era há duas quadras da praia.

O carro lotado e com um motorista que esquecera os óculos nos levava em visitas às cidades vizinhas. Que perigo, ainda estamos vivos. De um lado da estrada, praias vazias, do outro, casinhas, pequenas cidades ou espaços ocupados por vegetação.

Depois de adiarmos nossa ida, é chegada a hora de partir. Nos despedimos dos primos e tios e pegamos o ônibus para a próxima parada. Eu, minha pouca bagagem, a pouca pretensão que me restou e a amiga do lado. Chegamos à casa dos avós dela. Nos receberam com sorrisos e um almoço gostoso. Todos muito simpáticos, todos muito receptivos.

Os fantasmas que me assombravam pareceram ficar tímidos com a paisagem e a calmaria do lugar, quase não deram as caras. Talvez a distância de casa também exigisse estar bem.

Tardes de ócio. E o rosto conhecido continuava a me fazer companhia e a me surpreender com seus trejeitos. E a cada dia eu confiava mais nele e gostava mais de estar ali e não tinha vontade de ir embora.

Após adiarmos nossa ida mais uma vez, compromissos que não puderam ser esquecidos nos fizeram regressar ao Rio. A cidade estava quente e movimentada como de costume. Tive saudade da brisa fresca, das noites estreladas, da companhia, do café com leite...

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Margarida

Era uma vez uma menina chamada Margarida. Margarida adorava dançar, porém não sabia. Dançava com qualquer musica, dançava com tudo. Quando estava em meio a muitas pessoas conseguia se conter, mas só ela sabia o quanto era difícil. Dançava com comerciais de TV, dançava com toques de celular, dançava quando menos esperava.

Seu programa preferido eram os clipes de música, passava horas só assistindo para poder (tentar) imitar as danças e coreografias.
Sua irmã, coitada, sofria com isso. Tinha que aturar todas as imitações precárias de clipes, danças esdrúxulas de qualquer ritmo e qualidade. Falava:
- Margarida, pára de dançar!
- Não consigo, é tão legal! – e continuava a dançar.

Até que um dia percebeu que aquela mania estava indo longe demais. Já estava cansada de dançar a toda hora, por qualquer música, mas mesmo assim não conseguia parar. Tentava não dançar, mas acabava sempre com suas danças estranhas: pernas arqueadas, quadris em movimentos circulares, braços dobrados abrindo e fechando e por aí vai.
Não tinha mais controle sobre suas reações dançantes. Antes ela até dançava disfarçadamente, batendo palmas silenciosas, girando devagar como se estivesse procurando algo, ou então dobrando a perna como se estivesse alongando, ela dava seu jeito, mas agora não conseguia mais.

Resolveu procurar ajuda: entrou para os D.C.A– Dançantes Compulsivos Anônimos.
Lá encontrou gente que compartilhava do mesmo problema que ela, e pior até. Um já havia dançado 26 horas seguidas sem parar, até cair desmaiado; outro perdeu o emprego porque toda vez que alguém chegava em sua sala, ele levantava dando um grito, fazia gesto de ‘hola’ e sentava como se nada tivesse acontecido, seu chefe começou a achar que era gozação apesar das inúmeras explicações. O problema dos bailarinos por falta de opção não era reconhecido, as pessoas não levavam a sério, achavam que era tudo graça ou falta de educação, não viam como um problema.

Margarida já estava há 8 meses no D.C.A. e sentia algum efeito. De vez em quando tinha uns deveres de casa, como andar com fone de ouvido escutando sua musica preferida na rua sem dançar. No início deu muitos vexames, mas depois passou a só dançar quando passava por lugares vazios. Até que depois de 3 anos no D.C.A., recebeu alta, estava curada e podia ter uma vida normal em sociedade. Finalmente!

Ela se sentia tão feliz, estava radiante, mal podia esperar por chegar em casa e avisar à sua irmã que não sofreria mais de vergonha alheia por sua causa. Parecia estar sonhando, era uma sensação ótima. Não se sentiu tão bem assim por 3 anos. Foi assim, nesse estado de alegria, até chegar em casa, abriu a porta e encontrou sua irmã sentada no sofá assistindo televisão:
- Olhe para mim, irmã, estou tão bem!
- Deixa de ser ridícula, Margarida. Estou vendo TV, licença. Pára de dançar.
Dançar? Margarida estava dançando? Como poderia?
Foi correndo para o quarto e quando chegou viu-se no espelho. De fato estava dançando. Sem nem perceber. Todo tratamento teria sido em vão.
Mas aquela era uma dança inédita, nunca havia feito aqueles passinhos antes. Eram passinhos incríveis. Então, quando ia começar a ficar triste, alegrou-se novamente.
Foi para a sala e chamou sua irmã para dançar. Sua irmã se enfezou e foi para o quarto ver TV onde tivesse paz. Margarida ficou na sala imitando clipes, muito feliz. Percebeu que não tinha do que se curar. Sua irmã acostumaria-se.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

De novo, Ano Novo

Achei tão bonito,tomei a liberdade de publicar aqui, mesmo com uns dias de atraso:

"Pensem bem: a esperança é uma delicadeza do espírito. Amanhã à meia-noite os relógios não se deterão um átimo sequer, e o Dia Novo, do Ano Novo, estará implacável porém placidamente sobre nós. Nós teremos listas de tarefas e metas e desejos. E pularemos de cadeiras sobre os nossos pés direitos, e saltaremos ondas, e comeremos uvas. Nós, uns tolos.

Uns tolos. Os que acreditam em Amor eterno. Os que acreditam em Amor impossível. Os de coração mole. Os que tentam se proteger do Amor. Os que sonham com um Amor perfeito. Os que esperam. Os que buscam. Os que cansaram de esperar e tentam as maiores bobagens em vão. Os que permanecem onde estão porque acham que não merecem mais. Por causa de outros amores. Porque acham que é melhor. Os que acham que encontraram o par perfeito, a metade da laranja. Os que encontraram, mas não podem ficar com ele. Os que aceitam a solidão. Os que não aceitam. Os que escrevem versos. Os que lêem e choram. Os que lêem e agem. Os que lêem e desprezam. Os que não lêem. Os que mandam flores. Chocolates. Os que só mandam chocolates e mais nada. Os que reclamam do Amor. Os que reclamam de tudo. Os que se complicam. Os que pensam ter simplificado. Os que seguem navegando. Os que se perdem. E os que naufragam felizes.

Uns tolos delicados e cheios de esperança, todos nós. Que tenhamos então o mais feliz dos Felizes Anos Novos, em todos e em cada Dia Novo."


Jason Carneiro

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Sonho

Hoje sonhei com você. No sonho você vinha despida de alegorias. Simples e casual. Não havia orgulho, arrogância ou ironias, só havia eu e você – essencialmente.
Na cena, muita gente e barulho, eu sentada num canto, em sua chegada fez-se um silêncio repentino. Me lembro de abaixar a cabeça e sorrir.
Você surgiu como o ápice do meu sonho.
Não houve diálogo, mas a sensação era de reconciliação, um olhar nos bastou para que ficássemos bem, nos permitimos ter um ao outro de novo depois de perceber que não adiantaria relutar. Um olhar e o alívio.
Você surgiu como o ápice e o fim do meu sonho: acordei.