sexta-feira, 30 de abril de 2010

A noite vai (Reeditado)

A noite vai.
O dia vem
E traz
A paz
que a noite leva.

O dia vem
E traz
A luz
Que a noite leva.

O dia vem
E traz
O som
Que a noite leva.

O dia vem
E esquece
A fé
Que a noite traz
E se desfaz
Na promessa
De medo nunca mais.

domingo, 25 de abril de 2010

Poema gripado

Queimo em chamas invisíveis,
Retorço-me
Sem conseguir evitar o movimento.

Sigo cada hora um:
Não tenho itinerário certo.
Consolo-me da ausência de cuidados excessivos.

Mal posso dançar.
Meu corpo parece querer deitar em qualquer chão,
busca o conforto que essa sensação me tira.
Tomo um comprimido –

minha temperatura parece abaixar
e (quase) consigo parar de emitir gemidos.
Me resta o muco-meleca
escorrendo-me pelo nariz.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

A bunda que engraçada

A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica.

Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora – murmura a bunda – esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.

A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio. Anda por si
na cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.

A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.

Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz
na carícia de ser e balançar.
Esferas harmoniosas sobre o caos.

A bunda é a bunda,
redunda.




Carlos Drummond de Andrade

O amor natural, 1930




Achei engraçado quando li, resolvi publicá-lo aqui. haha

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Alegria

Há muito
não sentia
o sabor
daquele vento de alegria.
Dentro de si
Fez-se sintonia
E o que esquecera
A alegria daquela ventania.

Palavra e presença
De quem já esquecera como era amar
Provocaram a quase epifania.

Riu do próprio riso –

Há muito
não sabia
O que era rir
Da própria alegria.

Depois do vento
a calmaria
que logo dava lugar
À brisa daquela alegria.