quinta-feira, 9 de julho de 2015

Formigas

Íamos caminhando a passos pequenos,
passos de formiga.
Os meus, duros, de calcanhares agudos.
Os teus, silenciosos, de almofada.
Íamos nós, pisando em areia fina e antiga
para nós desconhecida.
Sempre caminhando,
sempre e amiúde, íamos.
O terreno indicava o início,
nós não fazíamos ideia.
Acreditávamos já estar no fim
quando
demos por nossos pés,
íamos subindo.
A areia agora em grãos pedregulhosos,
caminhávamos a passos miúdos
num aclive geográfico.
A subida ganhou contorno
de exaustiva escalada.
Nossos passos não aceleravam os pés
lentos,
que queriam correr,
tentar alcançar solo menos sôfrego
e doído.
Por que prosseguir se
nos causava tamanho sofrimento?
Tu e eu íamos subindo
a crer estarmos próximos do fim.
Caminhando,
passos sempre lentos,
nossos corpos envergando
as colunas jovens,
atirando as cabeças para frente.
“Por que não corres?”,
Gritei, tinha raiva, não entendia nada.
“Por que não te afastas?”,
Tua voz chegou baixa e firme,
não estavas cansada.
Então subimos, caminhávamos, o passo sempre o mesmo
A crença ora no fim, ora no infinito.
Finalmente chegamos a um topo.
Para nossa surpresa
principiou ali solo suave de gramínea
fresca.
Nossos pulmões se alargaram
involuntariamente.
Tu seguraste-me as mãos num instante gracioso,
Eu apertei as tuas de volta, cheia de alegria.
Começamos a correr,
Por vezes nossos pés saíam do chão,
tocavam o ar,
às vezes ríamos muito.
Depois, passavam-se horas
de silêncio apaziguador.
Às vezes cerrávamos o cenho,
nos afastávamos.
Aprendemos a alternar o jeito da caminhada,
íamos assim
E já mais adiante percebemos
(e nos alegramos):
Íamos assim.