sábado, 22 de agosto de 2009

Oração

Meu Deus, não permita nunca que eu julgue alguém pela aparência física, pelas roupas que veste, pelas pessoas com quem anda, pelas coisas que possui. Não permita que eu julgue ninguém pelo jeito de falar, pelas músicas que ouve, pelos lugares que frequenta. Não me permita julgar excessivamente, não cabe a nós julgar.

Meu Deus, não permita que eu me deixe levar por aqueles que se acham superiores, que dão valor, sobretudo, à imagem e não à essência. Aqueles que de tanto preservar e acalentar a própria vaidade não percebem que isso é um apoio à insegurança. Alimentar o ego é uma forma de esconder de si mesmo os próprios defeitos, uma tentativa inútil de se pôr acima dos outros. Uma forma de suprir as coisas que julgamos nos faltar.

Meu Deus, me ajude a ficar em paz comigo, satisfeita com minhas atitudes e valores e a ser menos incoerente. A fazer o bem, a ser justa, a não tentar ser perfeita, a respeitar minha humanidade.

Amém

domingo, 16 de agosto de 2009

Aquela tarde

Aquela tarde poderia ter sido como qualquer outra e ter passado despercebida, mas decidi desviar o olhar das angustias que me rodeavam para o outro lado da rua. Me deparei com seu sorriso sem querer.
Entrei num estado que fica entre a nostalgia e a tristeza, com saudade de ter aquele riso de perto, de tê-lo para mim. Continuei olhando, cuidando para que não me vissem.
O sorriso que preenchia seus lábios cortou a angústia silenciosa da minha tarde, e notei: você encontrou em outro sorriso o seu riso, em outros braços os seus abraços, em outra companhia a sua devoção.
Não pude deixar de ter certa admiração pela simplicidade daquela cena. Segui meu caminho, tola e só, repassando a cena bela e triste, como aquela tarde.

sábado, 1 de agosto de 2009

Deleite

Depois de ter experimentado dos teus dias, não me lembro de nada mais doce e saboroso. Eu tive em ti meu mais puro deleite, e em meio a bruscas sacolejadas eu acordei. Sem entender o que acontecia, tentei sonhar de novo, mas as imagens de alegria só apareciam em meus sonhos adormecidos: a época em que sonhei acordada não voltou mais.
Após percorrer quilômetros de tentativas inúteis, de fracassos sucessivos, chegamos ao suposto entendimento. Pura farsa, na minha opinião. Por comodidade e medo nos apoiamos nesses frágeis pilares e estamos nessa ponte incerta, esperando o exato momento em que cada um dirá “até logo”, mesmo sabendo que o outro seguirá em sentido oposto e que dificilmente o “até logo” será breve.
Toda displicência é forçada tentativa de não jogar toda minha verdade em seus ombros.
Sigo, acordada, esperando pelo dia em que voltarei a sonhar.

Procura-se um amigo

"Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor.. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.


Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoa tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.


Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.


Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive."



Vinícius de Moraes (supostamente, pois diz-se que este poema não é dele)