segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

O homem sem letreiros

Acima de sua cabeça o céu é vasto
sem telhas
O ritmo de seus pensamentos
É o das nuvens.
Homem sem letreiro
nem relógio digital
é visto da estrada pousando o queixo
sob as mãos ancoradas na enxada.
Não evoquei cena, eu primeiro vi.

Deve ter uma casinha azul, uma mulher, apenas dois filhos
E amar para ele é defender.
Tem TV e fala de acontecimentos recentes
mas há espaço, há espaço em tudo,
tanto que as vezes é como esquecer-se.
Enquanto cremos amar, ele defende
firme, calmo, certeiro, simples
defende.
Que céus acima de sua cabeça, e que pensamentos terá?
Que vida de silêncio e cultivo.
Enquanto nos distraímos confusos, ele defende
e defenderá.

Que ares em seus pulmões, e quanto tempo, quanto tempo lhe cabe.
O homem sem letreiros nem escusas defende:
veste-se, come, é, caminha, tem prazer, ri, dorme, desperta
Isento de persuasão.
Anda por entre as vaquinhas, tão natural.
Todas as coisas cada uma em seu tempo
ouvindo os movimentos
particulares do mundo.
O homem sem letreiros é lúcido,
para e escuta.