sábado, 9 de julho de 2011

Desarranjo

Ela prometeu ser diferente – que ela era diferente. Acreditaram todos. Ela veio uma promessa – ela própria era a promessa, e conduzia promessas suas, distribuindo-as com olhos e ditos animados. Era tão autentica que todos quiseram crer. Ela gerava expectativas. Não era de avisos, era toda imprevistos: seu charme, seu importuno. Ora casual, ora descabida. E como era sempre do mesmo jeito, dependia do humor, ou dos santos baterem, pra gostar dela. Ela preenchia se estava por perto, tinha tanta certeza que era motivo de alegria – e de fato era, que abria espaços, cativava mais pessoas, expandia-se para ser mais. Certa vez ausentou-se um tempo, sentiram tanto a sua falta... Chamavam-na pra perto, mas ela não podia, não tinha tempo, tinha que trabalhar, estava a conhecer gente por algum canto e deixando vazio o canto que conhecia. Até que voltou, querendo que a amassem por ser ela tão boa. E falava demais, e ria de si, e não tinha mais ouvidos porque queria que soubessem dela, e interrompia se falassem, e falava sem parar, e falava, e nada era tão interessante quanto seus casos, seus romances, seus dias e seus novos amigos. Enganara-se consigo mesma. Estava um equívoco. A espontaneidade tornara-se pretensão, só ela não via. Perdera a dose de si, o ego lá em cima a superestimá-la. E quem a tinha visto antes da ausência sentia certo incômodo, padecendo com esperança de tê-la realmente de volta. Preferiam até que ela fosse um pouco embora, pra dar tempo de se rearranjarem com a novidade – ela, que era a novidade. O hábito de sumir e reaparecer, antigo porém desconhecido, a tona: Ela sumiria, com as promessas, com a graça, com a beleza antigas, e também com a leviandade, a presunção e a inebriada vaidade. Ela sumiria e voltaria para uma visita, talvez um almoço, talvez um dia. Os outros esperariam seus regressos, tão vazios dela, sem saber se ausência era saudade ou alívio.

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