sábado, 2 de junho de 2012

Quimera

Que perigo eu lendo-te, só, cá no meu recanto. Que perigo para nós. Que perigo minha imaginação trazendo-te para tão perto assim. Não fales tão entregue, que tenho vontade de recolher-te. Não fales tão simples, que tenho vontade de acomodar-te. Não fales tão suscetível, que tenho vontade de proteger-te de todo o mal.

É noite, e a música tão melódica que sinto saudades. Já é noite e nós mal amanhecemos. Ainda é noite, eu não tenho sono, quanto a ti, não sei. Mas ainda é noite e eu quero um dia mais, e logo. O sabor tão recente da companhia nova e boa.

Joguemos ao vento algumas flores, roxas e amarelas. O que isto diz para nós? Onde está a beleza nisto tudo? Em nós. Procuremos um lugar vazio e fresco para sentarmo-nos a sós e esperar o tempo, a falar, a calar, a pausar. Há beleza nisto? Há. Quem passa e nos percebe ali sabe e consente. Talvez até esteja frio, talvez o tempo esteja cinza – e não há nisto metáfora, falo do tempo mesmo, do céu, do ar. Há beleza nisto. Aquiescemos.

Estamos passando. Ruflam os tamborins, os dedos, os tambores, os corações, as asas do pássaro, as bandeiras. Estamos passando e nossos olhos sorriem. Não toco-te com as mãos, mas meus cabelos esbarram no teu ombro. Pareando-te, olho-te de onde estou: que bonito. Que perigo.

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