segunda-feira, 11 de março de 2013

Abrupto

Bruno, antes de sair, deixou um bilhete. Não tinha um amor, diziam, Bruno não sabia chorar, amar muito menos. Era o que diziam. Mas escreveu um bilhete sem remetente nem destinatário e deixou sobre a mesa da sala. Calçou seus chinelos, iria à praia, não se sabe, talvez à padaria. Bruno passou uma mão pelos cabelos e outra nas chaves e voltou à mesa do bilhete. Releu. Amassou o papel branco rabiscado, colocou no bolso, não valia à pena. Daí continuou seu dia, saiu de chinelos e semi penteado, talvez tenha ido à praia, talvez só à padaria ou a nenhuma delas, e o bilhete em seu bolso enquanto andava por aí. Então alguém o achou pelo chão, abaixou-se para pegar e leu. Achou vulgar, tolo, mas guardou no próprio bolso, depois o colocou na mesa de sua própria sala. Não demorou muito para que um outro que lá habitasse lesse, não se sabe o que lhe pareceu, se bom ou ruim, só que no fim da leitura deu um sorriso de canto, que poderia ser de concordância, talvez. Ou não:

“Daí alguém pode imaginar que eu esteja me iludindo. Talvez eu esteja. E ainda podem dizer que eu só sei amar assim, de súbito, logo, enciumado, quase obsessivo, que não sei amar. Talvez tenham razão. O meu amor chega abrupto com o pé na porta, senta, cruza os braços, fecha a cara. Esse é o meu amor, o meu amor só soube amar assim toda a vida. Fecha a cara de braços cruzados, coitado, de ciúme e medo, esperando um afago pra poder sorrir. O meu amor é um tolo mesmo, ama desesperado e quieto, choroso de saudade e fingindo sempre não existir, que é simpatia passageira”

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