sábado, 6 de fevereiro de 2010

Viajei

Sem muita bagagem, alguma pretensão e uma amiga do lado, viajei. Lá, esperava encontrar a praia perfeita. Não achei. Parecia o caos. Gente e mais gente. Minha ilusão de paraíso deserto foi por oceano adentro, naufragou. Em meio ao caos ressurgiram as vozes e os sorrisos conhecidos, aos poucos fui me reencontrando. Localizo-me, afinal. O caos naufraga junto às minhas frustrações iniciais, passo a gostar do lugar e a me divertir só pelo fato de estar ali.
Olhava para frente: mar e areia. Olhava em volta: amigos queridos.

Tardes de ócio, grandes pausas de silêncio, brisas suaves e fortes. Um rosto conhecido sempre ali a fazer silêncio, a fazer confissões, a responder perguntas estúpidas e a agüentar minhas manias. A sorrir de forma mansa. Um rosto tão antigo a mostrar trejeitos que eu desconhecia. Velhos traços de infância dando espaço aos recém adquiridos traços de amadurecimento. E eu ali pensando como não havia percebido antes. Reparei em algo, não sabendo muito bem no quê. Reparei sem perceber e sem querer: aquele alguém fluía diante de mim obrigando-me a deixar de lado antigas impressões.

Longas caminhadas noite adentro. Íamos longe evitando pensar no caminho de volta. Ar fresco e um céu de estrelas. Fins de tarde e maresia. Conversa jogada fora na praça. Partidas de cartas para quebrar o tédio que mais parecia descanso e não chegava a incomodar. Sorvete e crepe de palito e brigadeiro de panela e empada da padaria e café com leite e pão com manteiga e tudo tinha um sabor diferente.

A casa, aconchegante, parecia querer abrigar o maior número de ocupantes possível. Quanto mais gente, mais radiava, não se fazia lotada. A varanda em parceria com sombra fresca e vento. O banheiro tinha até duchinha! Era há duas quadras da praia.

O carro lotado e com um motorista que esquecera os óculos nos levava em visitas às cidades vizinhas. Que perigo, ainda estamos vivos. De um lado da estrada, praias vazias, do outro, casinhas, pequenas cidades ou espaços ocupados por vegetação.

Depois de adiarmos nossa ida, é chegada a hora de partir. Nos despedimos dos primos e tios e pegamos o ônibus para a próxima parada. Eu, minha pouca bagagem, a pouca pretensão que me restou e a amiga do lado. Chegamos à casa dos avós dela. Nos receberam com sorrisos e um almoço gostoso. Todos muito simpáticos, todos muito receptivos.

Os fantasmas que me assombravam pareceram ficar tímidos com a paisagem e a calmaria do lugar, quase não deram as caras. Talvez a distância de casa também exigisse estar bem.

Tardes de ócio. E o rosto conhecido continuava a me fazer companhia e a me surpreender com seus trejeitos. E a cada dia eu confiava mais nele e gostava mais de estar ali e não tinha vontade de ir embora.

Após adiarmos nossa ida mais uma vez, compromissos que não puderam ser esquecidos nos fizeram regressar ao Rio. A cidade estava quente e movimentada como de costume. Tive saudade da brisa fresca, das noites estreladas, da companhia, do café com leite...

Um comentário:

  1. Ri mto na parte " tem até duchinha no banheiro" rsrsrs. Muito espirituoso seu texto. E que bom que tenha se esquecido dos seus fantasmas, é sempre bom tirar umas férias de nós mesmos pra dispairecer a cabeça e começar o ano renovada. To vendo que fez a festa nessa praia neh ? Voltou da cor do pecado ?? Beijoss querida =D

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